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Há vagas para os desiludidos?

Posted by RcZem

Eu estava estacionado na última vaga destinada aos desiludidos.
Não havia brisa, nem fortes ventanias ao redor. Tudo era perene.
A neblina era o que me protegia. Ninguém me via. Eu estava em paz.
Descansando em paz.
Não tremia os sexos, não causava arrepios, não criava expectativas.
Estava num momento socialmente aceito. Não haviam do que me condenar.
Mas... E sempre existe um “mas” que perturba a tranqüilidade da mesmice.
Mas você apareceu.
Não tocou a campanhinha, não limpou os pés antes de entrar, nem se deu ao luxo de tirar os sapatos. Simplesmente jogou todo seu peso sobre minha vida e aconchegou seu corpo no pouco de lucidez que ainda restava em mim, roubando-a portanto.
O destino deve ser mesmo uma criança travessa que adora pregar peças na gente, ou um próprio coitado que sempre assume a culpa de tudo calado. Não tem quem culpar, pois bem... a culpa é do pobre do destino.
Pronto. Já me sinto mais aliviado.
Eu tentei trancar as portas, mas parecia que você tinha as chaves do cadeado.
Não que você quisesse deveras estar ali, muito pelo contrário, sempre insistia em partir.
Porém meu lado masoquista é o que te prendia aqui.
Sim, porque se depois de tantos desencantos e palmadas de realidade na cara ainda não desisti, é sinal de que pelo menos a dor me serve de alguma coisa.
Talvez eu prefira a dor do que a ausência.
Imaginar como seria daqui pra frente sem você é retroceder, voltar à vaga dos desiludidos, correndo o risco de já encontrá-la ocupada. Não restando absolutamente nada.
Por isso tenho insistido na sua permanência, ainda que recheada de atritos.
Não sei disfarçar sentimentos, faço exatamente o contrário disso, exagerando no tempero e nos condimentos, deixando tudo forte demais para o seu paladar aguçado.
Me sinto uma eterna hipérbole nos meus relacionamentos.
E você meu caro, insiste no eufemismo.