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O amor, um palco e um porre.

Posted by RcZem

De repente se descobre que o que pensávamos ser epifania não passa de mais um enredo fracassado.
O que parecia tão certo torna-se dubitável.
E o final da peça, por todos já dramatizado se repete.
Talvez uns quilos a menos e uns goles a mais.
No reinado da insônia reina a brasa do cigarro quebrando o escuro feito vaga-lume no mato.
Mas me digas para que tantas firulas somente para dizer que teu sonho foi frustrado?
Bastaria que te vissem, os sinais de descontentamento estão presentes no seu rosto feito lençol amarrotado.
E a cura só vem em forma de diálogo.
Uma conversa franca entre você e o tempo.
Não se atreva a dizer isso aos desafortunados, posto que o tempo é sempre conjurado no passado.
Distante de um futuro imperfeito que se manteve intransitivo.
Contente-se, portanto, com um monólogo ou então se cale
Agora tudo é silêncio e saudade.

Muito prazer, nostalgia.

Posted by RcZem

Agora era tempo de ser criança
De correr livre pela rua, com a sensação de que, se quiséssemos, poderíamos voar
Quando os medos eram só de bruxa ou bicho-papão
Quando a única obrigação era ser engraçadinho
E ser paparicado não era privilégio
Quando o único limite eram os horários do banho ou da refeição
E quando sozinhos, bastaríamos usar a imaginação
Quando amor era só de pai e mãe
E nem isso eu tive...
Então que porra é essa?
Como pode doer no peito e culparmos o coração?
Não!
Não me venha falar de amor num mundo de narcisos, onde o centro do universo é o próprio umbigo.
Então cala a boca e chega de poesia
Recolha os cacos antes que os estilhaços do amor perdido corte seus pés quando estiver descalço
E ai sim sentirá a dor, não mais aquela da criança que um dia fora
O que sente agora meu caro é só solidão.

Amor de alfaiate

Posted by RcZem

A tarde se põe deslumbrante, vestida de cores gris
Numa costura fina, digna de San Laurent
Seu manto quente aquece o coração que dispara quando a mente insistem em lembrar do seu rosto
Sempre decorado por uma ternura constante.
O corpo grita no silêncio, rompendo a calmaria perene da noite que se anuncia
E sinto meu rosto rubro quando relembro seus lábios carmim.
Já tão meus.
O céu escuro, tão imenso, se amplia no horizonte sem fim.
Ahh se eu pudesse nesse momento costurar tua pele alva em mim...