Se eu te encontrasse dia desses
De manhazinha quando o Sol desponta
Veria na tua face alva e redonda
Os devaneios que me perseguem feito sombra.
Pensaria eu que amar é desperdício
É coágulo nas veias de quem insiste nisso
Posto que teu encanto conjurou-se vício
Pago as penas dessa abstinência e sigo.
Num caminho tão estreito que só mesmo eu caibo
Sem espaço pra mãos dadas nem abraços.
A passos lentos carrego meu corpo estilhaçado
Segurando na garganta uma nota de solidão.
E se meu peito permanece machucado
Ainda há o vento que sopra os estilhaços
Pro fim desse horizonte onde um dia te encontrei.
Nascendo como o Sol onipotente
Larguei ali suas mãos quentes
E no frio do teu silêncio congelei.
Ele chorava num riso tímido toda a utopia que guardava em si
Sempre na paranóia de uma Seleção Natural. Todos eram vistos como predadores.
So ele não percebia o quanto devorava de si mesmo.
Auto-canibalismo.
Seus dias eram ritualísticos. Eram os mesmos caminhos para não se perder. Sempre achava que o próximo passo poderia ser o abismo.
E quase sempre era mesmo.
Logo percebeu que se jogar neles era menos penoso do que buscar formas de desviá-los.
Assumia então uma apatia considerável, preferiu calar-se
Pobrezinho... não podia sentir o amor.
Mentira! Ele só não sabia o que é ser amado.
Amar ele sabia. Sabia tanto que, por isso, se detestava.
Tornou-se amorfóbico.
Foi a sua forma de manter-se vivo. No sentido menos literal da palavra
Odiar-se era a única forma de manter-se assim, afinal a dor é mais aliviante que o nada
Internou-se no seu mundinho por conta própria. Ele mesmo fizera seu diagnóstico:
Paranóico, auto-destrutivo, obsessivo, fóbico... e dentre tantas patologias descobriu que a mais grave e fatal delas era ser ele mesmo, era ser...
Humano.