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Vida de marola

Posted by RcZem




A água da maré alta já molhava-lhe os pés, mas ele nem pensava em sair dali. Só o sopro da maresia secava-lhe as lágrimas de descontentamento de uma vida inteira de naufrágios. A areia aconchegava seu peso, que era mais de consciência e medo do que outra coisa.
Não conseguia abrir os olhos, pois mesmo que fosse outono, o Sol incidia sobre seu rosto multifacetando seus contornos de pedra bruta. Não se sabe ao certo que horas eram, o tempo ali tinha vestido-se de coadjuvante. Os pensamentos acompanhavam o movimento do mar, hora calmos, hora revoltos. O mar estava bem agitado aquele dia. Nada se ouvia além do silêncio. A dor é muda, muda o tempo todo.