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A minha verdade sobre nós

Posted by RcZem


Me dê tudo que eu preciso
E veja em pouco tempo eu partindo
Em busca daquilo que ainda não tenho
Somos insaciáveis.
A facilidade do acesso não causa júbilo ao vencedor, ninguém quer de fato vencer por W.O.
Não venha você, dramaticamente, se estender ao chão para que eu pise
O que eu quero, mesmo em segredo, é ser também pisado.
Não sobreviveríamos a dias redondamente perfeitos
O queremos, bem lá no fundinho, é bater a canela nas quinas dos quadrados
Queremos dor!
Pronto. Sinto-me mais aliviado.
Ouvir o mesmo “Eu te amo” todo dia tem me deixado cansado
A mesma rotina, o mesmo corpo, as mesmas posições
Conheço todas as imperfeições do seu corpo e confesso que ultimamente é só o que eu tenho reparado.
Quero é chibatadas de leves e inconseqüentes atos.
Reconheço tua dedicação ao longo de todo esse tempo, fomos felizes, fato.
No entanto e por favor sem essa cara de espanto
Creio que ser feliz é para os fracos.
Tudo bem! Podem começar a atirar as pedras.
Podem me chamar de Maria Madalena
Afinal quem é que não tem um lado sádico?
Masoquistas então... quase cientificamente provado.
Desde criança já gostávamos de arrancar a casquinha dos machucados.
Sim! É isso meu caro.
Queremos mesmo são os desafetos, correr atrás do que não nos é dado.
Tente ao menos fingir que me odeia, quem sabe eu não volte pros seus braços.

O amor, um palco e um porre.

Posted by RcZem

De repente se descobre que o que pensávamos ser epifania não passa de mais um enredo fracassado.
O que parecia tão certo torna-se dubitável.
E o final da peça, por todos já dramatizado se repete.
Talvez uns quilos a menos e uns goles a mais.
No reinado da insônia reina a brasa do cigarro quebrando o escuro feito vaga-lume no mato.
Mas me digas para que tantas firulas somente para dizer que teu sonho foi frustrado?
Bastaria que te vissem, os sinais de descontentamento estão presentes no seu rosto feito lençol amarrotado.
E a cura só vem em forma de diálogo.
Uma conversa franca entre você e o tempo.
Não se atreva a dizer isso aos desafortunados, posto que o tempo é sempre conjurado no passado.
Distante de um futuro imperfeito que se manteve intransitivo.
Contente-se, portanto, com um monólogo ou então se cale
Agora tudo é silêncio e saudade.

Muito prazer, nostalgia.

Posted by RcZem

Agora era tempo de ser criança
De correr livre pela rua, com a sensação de que, se quiséssemos, poderíamos voar
Quando os medos eram só de bruxa ou bicho-papão
Quando a única obrigação era ser engraçadinho
E ser paparicado não era privilégio
Quando o único limite eram os horários do banho ou da refeição
E quando sozinhos, bastaríamos usar a imaginação
Quando amor era só de pai e mãe
E nem isso eu tive...
Então que porra é essa?
Como pode doer no peito e culparmos o coração?
Não!
Não me venha falar de amor num mundo de narcisos, onde o centro do universo é o próprio umbigo.
Então cala a boca e chega de poesia
Recolha os cacos antes que os estilhaços do amor perdido corte seus pés quando estiver descalço
E ai sim sentirá a dor, não mais aquela da criança que um dia fora
O que sente agora meu caro é só solidão.

Amor de alfaiate

Posted by RcZem

A tarde se põe deslumbrante, vestida de cores gris
Numa costura fina, digna de San Laurent
Seu manto quente aquece o coração que dispara quando a mente insistem em lembrar do seu rosto
Sempre decorado por uma ternura constante.
O corpo grita no silêncio, rompendo a calmaria perene da noite que se anuncia
E sinto meu rosto rubro quando relembro seus lábios carmim.
Já tão meus.
O céu escuro, tão imenso, se amplia no horizonte sem fim.
Ahh se eu pudesse nesse momento costurar tua pele alva em mim...

Àqueles que fingem.

Posted by RcZem

Podemos ser tudo, se quisermos.
Desde que eu não precise ser mera extensão fálica de você.
Nossos desejos seguem polaridades opostas, correndo o risco de se anularem no encontro.
Sendo assim, melhor não derrubarmos esse muro de Berlin que conserva nossa individualidade.
Seguiremos sem culpas ou banalidades. Cada um que se vire com suas chagas.
Nada de sopro aliviante.
Conservaremos os arrepios e os sussurros trêmulos que se esvaem no silêncio do quarto, como expressão perfeita do gozo.
Amantes inconseqüentes, sem fundamentos.
Foda-se o amor e seus pesares.
Doravante, somente minha frigidez poética e mais arrepios e gemidos declarantes.

Há vagas para os desiludidos?

Posted by RcZem

Eu estava estacionado na última vaga destinada aos desiludidos.
Não havia brisa, nem fortes ventanias ao redor. Tudo era perene.
A neblina era o que me protegia. Ninguém me via. Eu estava em paz.
Descansando em paz.
Não tremia os sexos, não causava arrepios, não criava expectativas.
Estava num momento socialmente aceito. Não haviam do que me condenar.
Mas... E sempre existe um “mas” que perturba a tranqüilidade da mesmice.
Mas você apareceu.
Não tocou a campanhinha, não limpou os pés antes de entrar, nem se deu ao luxo de tirar os sapatos. Simplesmente jogou todo seu peso sobre minha vida e aconchegou seu corpo no pouco de lucidez que ainda restava em mim, roubando-a portanto.
O destino deve ser mesmo uma criança travessa que adora pregar peças na gente, ou um próprio coitado que sempre assume a culpa de tudo calado. Não tem quem culpar, pois bem... a culpa é do pobre do destino.
Pronto. Já me sinto mais aliviado.
Eu tentei trancar as portas, mas parecia que você tinha as chaves do cadeado.
Não que você quisesse deveras estar ali, muito pelo contrário, sempre insistia em partir.
Porém meu lado masoquista é o que te prendia aqui.
Sim, porque se depois de tantos desencantos e palmadas de realidade na cara ainda não desisti, é sinal de que pelo menos a dor me serve de alguma coisa.
Talvez eu prefira a dor do que a ausência.
Imaginar como seria daqui pra frente sem você é retroceder, voltar à vaga dos desiludidos, correndo o risco de já encontrá-la ocupada. Não restando absolutamente nada.
Por isso tenho insistido na sua permanência, ainda que recheada de atritos.
Não sei disfarçar sentimentos, faço exatamente o contrário disso, exagerando no tempero e nos condimentos, deixando tudo forte demais para o seu paladar aguçado.
Me sinto uma eterna hipérbole nos meus relacionamentos.
E você meu caro, insiste no eufemismo.

Lembranças

Posted by RcZem

De mãos dadas ainda caminhávamos pela terra molhada da chuva da noite anterior.
Os pingos marcados ao lado dos bem delineados passos me lembravam as lágrimas que caíram quando os seus passos tomaram outra direção.
E sem você pra me guiar acabei sem rumo. Não. Não era você que estava ali segurando minha mão.
De você só mesmo a amarga lembrança das gotas de lágrima no chão.
Nem ninguém pra deitar na grama e inventar desenho nas nuvens...
Nem ninguém pra contar os vagões coloridos do trem...
Ninguém.
De você meu caro, só esse aperto, que não é de mão, nem de abraço, é só angústia mesmo.
Os desejos, aqueles outrora tão cheios de arrepios adormecem num sono profundo de frigidez.
E faz tanto frio...
Mas o frio me faz lembrar o sorvete de palito que a gente comprava e sempre gargalhava quando eu adivinhava exatamente o sabor que você queria.
Já não há nuvens, nem vagões, nem arrepios, nem mesmo o sorvete.
As lagrimas sim. Mas não mais aquelas tão freqüentes e salgadas. Só uma ou outra de vez em quando pra molhar o travesseiro com nada suaves lembranças.
Mas a noite sempre termina. Nos cantos da casa ainda alguns fantasmas carregados daquilo que você deixou pra trás.
Nem em fantasmas eu acredito mais...
Quem dirá em você... quem dirá no amor.